Uma proposta do Ministério dos Transportes tem movimentado o debate em todo o país. O governo federal abriu uma consulta pública para discutir o fim da obrigatoriedade de frequentar aulas em autoescolas para tirar a Carteira Nacional de Habilitação (CNH), nas categorias A e B.
A ideia é permitir que o candidato se prepare de forma independente, estudando por conta própria, com instrutores credenciados ou em cursos online, mantendo apenas a exigência dos exames teórico e prático nos Detrans.
Enquanto o governo defende a proposta como uma forma de baratear o processo e ampliar o acesso à CNH, especialistas e profissionais da área alertam para o risco de queda na qualidade da formação dos motoristas e aumento de acidentes nas ruas.
Um motorista de táxi, que preferiu não ser identificado, disse que teme mais imprudência no trânsito caso a proposta seja aprovada. Segundo ele, o problema não está nas aulas, mas no alto custo das taxas cobradas.
“O governo tinha que reduzir o valor do custo da carteira, não das aulas teóricas, que são muito importantes. O pessoal hoje só pega a carteira e sai para a rua. Isso vai dar muita imprudência no trânsito. Já tendo aula normal, já tem muitos problemas. Imagina sem essas aulas, como é que vai ficar esse trânsito nosso? Vai ficar pior ainda.”
De acordo com o Ministério dos Transportes, o objetivo é democratizar o acesso à habilitação, que hoje pode custar até R$ 3 mil, dependendo do estado. O governo estima que o valor final possa cair em até 80% com a flexibilização.
Nas ruas de Três Corações, a população se divide. O morador Elton Alves, do bairro Cinturão Verde, acredita que a medida será positiva: “Não é todo mundo que tem dinheiro para tirar nesse preço todo. Ainda está caro. Se abaixar mais, aí eu ia tirar. Acho que vai melhorar bem.”
O morador Tiago Barbosa, do bairro Cotia, também concorda: “Eu acho uma boa. As coisas estão difíceis. Muita gente tinha o sonho de tirar a carteira, mas não tem condição. Eu acho muito caro e muita gente não tem condição de tirar.”
Já Heloísa Fonseca, moradora do Centro, discorda e defende que as aulas continuem obrigatórias: “Eu acho errado. Tem que participar sim das aulas, porque o trânsito está um perigo. Tem muita gente querendo tirar a carteira, mas ainda está cara. Acho que se essa proposta for aprovada, vai ter mais acidentes. Tem que fazer tudo certinho, igual era antigamente.”
Entre os profissionais do setor, a preocupação é grande. A instrutora de trânsito Íris Marques, que atua há anos na Autoescola Três Corações, diz que recebeu a notícia com surpresa e alerta para os riscos de soltar motoristas despreparados nas ruas. “Foi um susto, porque a gente que convive nesse ramo sabe o quanto é custoso e difícil o processo de habilitação. Não é todo aluno que chega preparado. A maioria tem muita dificuldade, e o instrutor é quem sabe reconhecer isso. Soltar um aluno sem esse preparo é muito complicado”, disse.
Íris acredita que, ao contrário do que se promete, a medida não vai reduzir custos — e pode até aumentá-los. “Reduzir os custos não vai. Inclusive, acredito que vai aumentar, porque quem não tiver orientação vai reprovar mais. Hoje a taxa de aprovação já não é alta, ainda mais tirando da mão de quem entende. A taxa de reprova vai ser maior, gerando ainda mais gastos”, relatou.
Ela também destaca outro ponto preocupante: o risco de desemprego no setor. “O desemprego vai ser absurdo, até porque a gente sobrevive do cliente. As pessoas estão pensando numa baixa de custos que é ilusória, e isso pode afastar os alunos das autoescolas”, afirmou.
Os diretores da Autoescola Três Corações, Ademir Silva e Val Olívia, também comentaram o tema e reforçaram as preocupações com a formação e a segurança no trânsito. Ademir explica que, mesmo com as 20 aulas práticas obrigatórias exigidas hoje, o índice de reprovação ainda é alto — o que deve aumentar se as exigências forem reduzidas.
“O candidato tem que observar que o índice de reprovação já é grande. Se preparando com 20 aulas, já temos muitos reprovados. Imagina se o cidadão vier pegar três ou cinco aulas? Com certeza o índice de acidentes vai aumentar demais. Maior acesso vai ter, mas vai ter maior acesso à reprovação também”, afirmou Ademir.
Val Olívia detalhou os valores atuais e defendeu o papel essencial das aulas presenciais no aprendizado. “Hoje, o pacote completo para tirar a carteira de carro está por volta de R$ 1.200 a R$ 1.300, incluindo o curso teórico e as 20 aulas práticas. No caso da moto, sai em torno de R$ 900 a R$ 1.000. A gente vê aqui na autoescola que o aluno que vem presencialmente tem um índice de aprovação muito maior do que quem estuda em casa. A aula presencial faz diferença”, disse Val.
Para ela, o trabalho das autoescolas é indispensável para garantir segurança nas vias: “O ensinamento da autoescola é fundamental. Muita gente diz que pode aprender com o pai ou com o tio, mas aqui o instrutor é capacitado e atualizado todo ano. O carro é uma arma, não é um brinquedo. As pessoas precisam se conscientizar disso.”
A consulta pública sobre o tema segue aberta no site do Governo Federal, e qualquer cidadão pode participar enviando sugestões. Enquanto o governo defende a proposta como uma medida de inclusão, instrutores e profissionais do setor alertam que a formação teórica e prática é essencial para garantir motoristas mais conscientes e reduzir os acidentes no trânsito.
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