“Se esta rua, se esta rua, fosse minha, eu mandava, eu mandava ladrilhar…”. E o normal seria caminharmos por ela, com alegria, pés descalços e em intimidade com a terra, em comunhão com o universo. Como São Francisco de Assis, chamaríamos a tudo e a todos de irmãos, de irmãs.
Mas… Nesta rua nos sentimos estrangeiros e não olhamos o grande milagre da vida. E na solidão caminhamos esquecidos de nosso sagrado, afastados da essência, desligados do Todo…
Voltaire diz que “Os homens que procuram a felicidade são como os bêbados que não conseguem encontrar a própria casa. Eles sabem que as têm, mas não as encontram”.
Sim. Nós sabemos que a felicidade existe, mas não a encontramos.
Será que não nos bastaria a vida?
Será que, se acharmos a vida vazia, não nos bastaria completa-la com um abraço numa amiga, num amigo… com o marulhar de um riacho passando, com o piar de um pássaro tratando de seu filhotes, com a visão de uma árvore balançando ao vento?
Será que não nos bastaria o milagre que é ver a beleza de uma mulher caminhando no ondular próprio das mulheres?
O normal seria vivermos felizes, em comunhão com o universo, em intimidade com a terra e com tudo que existe sobre ela.
“Se esta rua, se esta rua fosse minha/eu mandava, eu mandava ladrilhar/Com pedrinhas, com pedrinhas de brilhantes/para o meu, para o meu amor passear…”
Mas não temos rua, não temos pedrinhas de brilhantes, não temos amor para passear…
Perdemos a intimidade com o bosque, com a solidão, com os anjos…
Mas se nos encontrarmos em nós, se nos encontrarmos em nossa raça, a humana, se nos reencontrarmos em nossa mãe, a terra, encontraremos novamente nossa casa. Retornaremos à lucidez, veremos tudo com o olhar das crianças.
E cantaremos numa rua ladrilhada de humanidade para nosso amor passar…


